John Ambrose Fleming (1904) e Lee de Forest: do diodo à válvula tríodo (Audion) – História e funcionamento

John Ambrose Fleming (1904) e Lee de Forest: do diodo à válvula tríodo (Audion) – História e funcionamento
Válvulas Eletrônicas · História

John Ambrose Fleming inventou o diodo em 1904 – e como Lee de Forest levou tudo ao próximo nível com o Audion

Da detecção de sinais no início do rádio à amplificação que viabilizou transmissões em massa: uma viagem técnica e nostálgica pela era das válvulas.

· Leitura: ~10–12 min
Ilustração de uma válvula diodo (Fleming) ao lado de um tríodo (Audion).
Esquerda: diodo termiônico (Fleming, 1904). Direita: tríodo com grade de controle (Lee de Forest, 1906).

Contexto histórico

No início do século XX, a telegrafia sem fio e as experiências com ondas de rádio fervilhavam. As equações de Maxwell já previam a propagação eletromagnética desde o século XIX, mas faltava um detector de sinais mais sensível e confiável. Foi aí que surgiu uma solução baseada em emissão termiônica — o fenômeno em que elétrons escapam de um metal aquecido.

Em 1904, o físico e engenheiro britânico John Ambrose Fleming consolidou esse princípio em um componente de duas eletrodos dentro de um bulbo de vidro evacuado. Nascia o diodo a válvula, também chamado de válvula de Fleming. Pouco tempo depois, Lee de Forest adicionaria um terceiro eletrodo — a grade de controle — inaugurando o tríodo, batizado por ele de Audion em 1906. Juntos, esses inventos tornaram possível detectar e amplificar sinais fracos, abriram caminho para transmissões de rádio, telefonia de longa distância, e, décadas mais tarde, para a eletrônica computacional.

Quem foi John Ambrose Fleming

Fleming (1849–1945) foi professor no University College London, consultor da Marconi Company e um dos grandes nomes da engenharia elétrica. Didático e meticuloso, Fleming soube traduzir o fenômeno da emissão termiônica em um dispositivo prático e robusto, que substituiu detectores mais caprichosos da época, como o coherer e detectores cristalinos de contato (cat's whisker).

Ideia central de Fleming: se elétrons saem do cátodo aquecido e podem ser coletados por uma placa fria (ânodo) só em um sentido, então o tubo se comporta como um retificador — conduz em uma direção e bloqueia na outra.

O que é e como funciona o diodo de 1904

Estrutura básica

  • Cátodo (aquecido por um filamento): fonte de elétrons por emissão termiônica.
  • Ânodo (placa): eletrodo coletor, mantido positivo em relação ao cátodo.
  • Bulbo evacuado: vácuo interno reduz colisões, permitindo fluxo livre de elétrons.

Princípio de operação

Quando o ânodo está positivo em relação ao cátodo, os elétrons emitidos pelo cátodo são atraídos e formam corrente. Invertendo a polaridade, o ânodo negativo repeliria elétrons, suprimindo a corrente. Resultado: retificação (conduz em um sentido, bloqueia no outro). Em sistemas de rádio, isso permitiu detectar sinais de alta frequência e recuperar o áudio.

Curva I–V e espaço de carga

Em um diodo a vácuo, a corrente não cresce linearmente com a voltagem. Para determinadas regiões, vale a lei de potência associada ao espaço de carga entre cátodo e ânodo. Embora detalhes matemáticos sejam além do escopo aqui, a ideia é: há um limite natural de corrente imposto pela densidade de elétrons no espaço entre os eletrodos, mesmo que se aumente a tensão.

Aplicações clássicas

Detecção

Detector de sinais de RF em receptores, substituindo o coherer e melhorando a fidelidade.

Retificação

Conversão CA→CC em fontes de alimentação iniciais para rádios e equipamentos de laboratório.

Proteção

Como diodo de proteção em circuitos sensíveis, evitando reversão de polaridade.

Vantagens e limitações

  • Vantagens: robustez, repetibilidade e melhor sensibilidade em relação aos detectores anteriores.
  • Limitações: não amplifica; apenas retifica/detecta. Para transmissões de longa distância e áudio audível, faltava ganho.

Lee de Forest e o Audion (tríodo)

Lee de Forest (1873–1961), engenheiro e inventor norte-americano, deu o salto que faltava: em 1906, inseriu uma grade de controle entre o cátodo e o ânodo no tubo a vácuo. Esse terceiro eletrodo permitiu modular o fluxo de elétrons com um sinal de pequena amplitude, obtendo amplificação. Ele batizou seu tubo de Audion.

Como a grade cria ganho

Uma pequena variação de tensão na grade altera fortemente a corrente ânodo–cátodo. Ao acoplar o sinal de entrada à grade e extrair o sinal no circuito do ânodo, obtemos um amplificador de tensão. Em configuração adequada, o dispositivo também pode oscilar, viabilizando osciladores de RF.

Por que o Audion foi revolucionário

  • Transformou receptores passivos em receptores amplificados, com maior alcance e volume.
  • Viabilizou transmissões de voz e música com qualidade, favorecendo o surgimento do rádio comercial.
  • Abriu caminho para etapas de ganho em cascata, filtros ativos, osciladores e circuitos de realimentação.

Notas históricas

  • As primeiras versões do Audion operavam com vácuo parcial; anos depois, melhorias de alto vácuo e materiais (ex.: trabalhos de Irving Langmuir) aumentaram desempenho e estabilidade.
  • Houve disputas de patentes e debates técnicos sobre circuitos de realimentação e osciladores nas décadas seguintes, refletindo a corrida pela era do rádio.

Impacto: do rádio aos computadores

Sem o diodo de Fleming e o tríodo de De Forest, a eletrônica moderna teria demorado muito mais a deslanchar. Rádios domésticos, telefonia de longa distância, equipamentos de medição, radares e computadores primitivos (com milhares de válvulas) dependiam dessas tecnologias. Só em 1947, com o transistor, começou a substituição gradual.

Rádio & Áudio

Amplificação confiável → rádios mais sensíveis, estúdios e transmissões profissionais.

Telefonia

Repetidores de linha baseados em válvulas estenderam o alcance da voz a longas distâncias.

Computação

Máquinas como ENIAC usaram válvulas como elementos de chaveamento e amplificação.

Hoje, diodos e transistores semicondutores dominam, mas o legado das válvulas segue vivo — de rádios clássicos a amplificadores valvulados que muitos audiófilos e guitarristas ainda veneram.

Diodo × Tríodo: diferenças chave

Característica Diodo (Fleming, 1904) Tríodo / Audion (De Forest, 1906)
Eletrodos 2: cátodo e ânodo 3: cátodo, grade e ânodo
Função Retificação / detecção Amplificação e oscilação
Sinal de entrada Aplicado ao circuito entre cátodo e ânodo Aplicado à grade (controle de fluxo de elétrons)
Ganho Não amplifica Amplifica (ganho dependente do mu e da configuração)

Linha do tempo rápida

  • 1904: Fleming registra o diodo termiônico (válvula de Fleming).
  • 1906: Lee de Forest apresenta o Audion (tríodo) com grade de controle.
  • Década de 1910: Melhoria do alto vácuo e desempenho das válvulas; popularização do rádio.
  • Décadas de 1930–40: Válvulas dominam telecomunicações, instrumentação e cálculos eletrônicos.
  • 1947: Invenção do transistor semicondutor; início da transição da tecnologia a válvulas.

Curiosidades e controvérsias

  • Nome “válvula”: no Reino Unido, o termo valve refletia a ideia de “deixar passar” corrente em um sentido. Nos EUA popularizou-se vacuum tube.
  • Patentes e disputas: a corrida por melhorias, alto vácuo e realimentação rendeu batalhas legais nas décadas de 1910–20.
  • Audion vs. Tríodo moderno: as primeiras unidades de De Forest operavam com gás residual; a versão de alto vácuo otimizada veio depois, refinada por pesquisadores como Irving Langmuir.
  • Som valvulado: a saturação agradável e a resposta dinâmica mantêm as válvulas vivas em áudio profissional e guitarras até hoje.

Perguntas frequentes (FAQ)

O que John Ambrose Fleming inventou em 1904?

O diodo termiônico, que funciona como retificador e detector, substituindo tecnologias menos estáveis como o coherer.

Qual foi a contribuição de Lee de Forest em 1906?

A criação do Audion (tríodo), ao adicionar a grade de controle, permitindo amplificação e oscilações estáveis.

Por que o tríodo foi tão importante para o rádio?

Porque forneceu ganho suficiente para receptores e transmissores, viabilizando transmissões de voz e música com qualidade e alcance.

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Créditos: Redação Nostalgia Eletrônicos. Este artigo faz parte da série “Raízes da Eletrônica”.

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